"Quando estou indecisa sobre algo, procuro me abster da pressão de tomar uma decisão. Considero que estou numa fase de 'colher dados'. Esta é uma atitude de abertura, que me permite ponderar a situação. As pessoas costumam dizer que estão 'fechadas para balançao', eu diria, então, que procuro estar 'aberta para balanço' ".
Todo dia pela manhã tento meditar e estudar um trecho de algum livro de ensinamento budista. O livro das emoções - Reflexões inspiradas na psicologia do Budismo Tibetano da Bel César, é meu livro preferido em termos de autoconhecimento. É para mim um guia completo.
Essa frase mexeu comigo. Pois o que venho buscando, ainda que não soubesse nomear, era estar "aberta para balanço".
Quando fiz minhas malas e fui embora de um casamento improdutivo, a ideia de começar do zero era um misto de alívio e insegurança. Parecia um retrocesso, a sensação era de fracasso, mesmo sabendo que fiz a escolha certa. Apesar de tudo, eu tive a chance de me conhecer como nunca antes. E a isso sou muito grata!
Durante algum tempo me considerei "fechada para balanço" estava buscando me redescobrir, tentava aprender a me entender, pq mudei tanto pelos outros, e também devido aos ressentimentos que tinha alimentado, que eu nem sabia mais quem eu mesma era. Então me fechei e mantive distância, achando que mais isolada eu me distraíria menos, me concentrei em me observar. Adquiri sim algum conhecimento, porém essa bolha protetora de isolamento não me reconectava com o novo, com o mundo... era algo muito autocentrado e por isso via as coisas sob uma visão limitada e distorcida. Eu buscava por conta própria me reestruturar, mas as ferramentas que dispunha já não surtiam efeito. Foi então que admiti que teria que recorrer a algo externo. Voltei a meditar, comecei a sair da zona de conforto fazendo coisas novas e comecei a fazer sessões de terapia, ainda que relutante, pois não queria admitir que precisava disso ou que fosse dar resultado. Que bom que eu estava errada! Ali entendi que o processo de se conhecer não é fácil, mas é gratificante. Aprendi a "colher dados" de forma mais realista. E assim melhorei muitos dos problemas que eu nem tinha noção do quanto me atrofiavam. Minhas inseguranças perderam força, conforme eu aprendia pela autocompaixão a me respeitar e a interpretar a vida de forma menos derrotista.
Eu achava que precisava primeiro me conhecer pra me desenvolver... mas foi me desenvolvendo que comecei a me conhecer.
Sinto que aprendi a viver recentemente, porque apesar de ainda ter mto o que melhorar, eu agora pelo menos estou aberta! Aberta a arriscar, aberta a aprender e com isso aberta até a errar! Pois é impossível ser excepcional em tudo, tive que deixar a autocritica tirana abrir espaço pra humildade amistosa e rir de mim mesma ao invés de me martirizar. Já deixei de fazer muita coisa por medo de decepcionar, por vergonha ou com receio de não ser boa o bastante. Tento não carregar mais tanto peso e nem me esconder em imensos mecanismos de defesa. Abri mão do que me mantinha (numa falsa ideia de estar) em segurança, e isso tem me aberto a novas percepções, novas experiências, novas histórias, nova forma de viver. Estar aberta para balanço tem me ensinado muito, tem me libertado, ainda que em muitos momentos seja desconfortável, tem gerado bons frutos.
Estou me abrindo e o mundo tem se aberto pra mim :)